9. SUFOCO E ALEGRIA

Cena 1: Abre a cortina: escritório do John.

Mary (entra, procurando): - Ai, meu Deus! Onde será que eu coloquei? (abre as gavetas). – Aqui não está! Nem nas estantes. Caramba, onde será que está?

John (entra, cansado): - Oi, Mary. O que você está fazendo?

Mary: - Estou procurando um livro de capa preta. Você por acaso não o viu?

John (estranhando): - Livro de capa preta?! Não, não vi nenhum por aqui.

Mary (solta um berro e corre até a mesa): - Achei! Até que enfim. Procurei-o por todos os cantos.

John (surpreso): - Mas, para que você o procurava?

Mary (“metida”): - Ah, você nem imagina! É para eu ir num baile que vai ter e, aqui, está a... o... bem, hã... a roupa certa de ir!

John: - Ah, bom! (zombando). – E, com quem você vai?!

Mary: - Oras, bolas! Eu vou com um executivo! Ai, ele é tão simpático, romântico, bondoso...

Aparece o bêbado na porta.

John (“tirando sarro”): - Por acaso é aquele ali? (aponta para o bêbado).

Mary (disfarçando): - Não, não, magina! Deixa que eu tiro logo esse bêbado daqui (vai até ele e o pega pelo braço). – Vamos, vamos. Onde já se viu entrar na casa dos outros?!

John (fica observando até saírem da porta): - Ai, essa Mary só arranja confusão! (senta na mesa e começa a datilografar).

Fecha a cortina

Cena 2: Abre a cortina: quarto de Mary.

Mary (entra empurrando o bêbado com raiva): - Seu jegue! Sua mula! O que foi que eu disse, hein?! (deixa-o próximo à cama e vai até o caldeirão): - Vê se, na próxima vez, não comete outra gafe! Quase que o John descobre. Já pensou que horror? (vai até uma caixa e pega um monte de potes): - Aqui estão: asa de barata, pernilongos, pulgas, pernas de aranha e rabos-de-ratos. (coloca tudo no caldeirão e mexe): - Isto é o melhor remédio para sua embiaguez, fofura. (dá para ele): - Toma, meu benzão!

Bêbado (toma tudo e faz cara de quem está congelado, duro).

Dá uma explosão. O bêbado se abaixa e o executivo levanta. Passa a fumaça.

Mary (alegre): - Que bom! Pela primeira vez deu certo! Ai, nem acredito. (vai para perto dele): - E aí, bonitão? Tem jeito?

Julie (entra rapidamente): - Oi, Mary. (pára de repente e fica curiosa): - Nossa, quem é esse monumento?

Mary (“toda, toda”): - É o meu par da noite. E vê se vai tirando o “olhão”!

Julie: - Calma, Mary! Mas, você nem vai apresentá-lo a mim?

Mary (com cara de “saco cheio”): - Tudo bem, eu apresento. (chega perto dele): - Peter, esta é a Julie!

Peter: - Prazer em conhecê-la!

Julie: - Oh! O prazer é todo meu! Você trabalha?

Peter: - Prazer em conhecê-la!

Julie: - Hã... O prazer é todo meu! Mas, onde você trabalha?

Peter: - Prazer em conhecê-la!

Julie (desanimada e com raiva): - Já disse duas vezes que o prazer é todo meu. E quer saber de uma coisa, dona Mary? (olhando para ela): - Que vão, você e seu prazer em conhecê-la para aquele lugar!

Mary: Obrigada. Tomare que consigamos realmente chegar no baile!

Julie sai do quarto.

Mary: - Não liga para ela não, tá meu amor? Agora, só vou me trocar e iremos atéo escritório do John e, de lá, para o baile, certo?

Peter: - Prazer em conhecê-la!

Mary faz cara de desânimo.

Fecha a cortina.

Cena 3: escritório do John. Abre a cortina.

John está escrevendo. Julie entra no quarto.

Julie: - Oi, John.

John: - Oi, Julie.

Se beijam.

John: - Trabalhou muito?

Julie (coloca a bolsa na mesa): - O que você acha?! Acho que estou com stress!

John: - Logo passa!

Julie: - Tomara! John, você viu o executivo no quarto da Mary? Homem bonito, simpático, tão educado que só sabe falar “prazer em conhecê-la”! Mas, pelo menos ele fala né?! Tem pessoas que nem isso fala!

John (fica olhando para a cara da Julie).

Julie: - Tá, John! Tudo bem! Você é muito mais do que isso!

Mary (aparece na porta com o executivo): - Viu, John? Olha só o meu par da noite!

John (surpreso): - Mas como você conseguiu fazê-lo virar executivo?

Julie (estranhando): - O quê, ele não era um executivo?

John: - Não! Era um bêbado!

Mary: - Ora, John! Foi com o livro preto!

Julie: - Então, ele não era um executivo e sim um bêbado?

John: - Não.

Dá outra explosão. O executivo vira bêbado.

Mary (começa a chorar): - Por que foi acontecer isso? Por quê? Por quê?

John (fica como uma estátua).

Julie (aflita, corre até a Mary): - Calma, Mary. Não chores mais. Eu dou um jeito nisso! (senta no chão e faz como se tivesse fazendo macumba).

Dá outra explosão. O bêbado vira executivo.

Mary (alegre): - Julie, você é um amor! Como conseguiu isso?

Julie: - Não faço a mínima idéia!

Mary: - Ai, que bom! Depois você me ensina esses truques?

Julie: - Eu não sei como fiz isso!

Mary: - Nem eu. Depois nós conversamos, tá bom? Agora eu vou pro meu baile. Tchau pra vocês.

Julie: - Tchau.

John (continua como uma estátua).

Julie sai na janela. Escuta-se o barulho de uma Brasília.

Julie (acenando): - Tchau! (sai da janela e começa a falar com o John): - Ai, que bom! Até que enfim... (olha para ele. Vai até a cadeira e dá um grito): - John!

John (com cara de sonso): - Hã... que... onde estou?

Julie (com raiva): - Quer parar de bancar o idiota?

John (voltando a si): - Não sei, não, mas acho que estou numa convenção de bruxas!

Julie: - O quê?!

John: - Desculpe, mas, que nome eu poderia dar para que faz bêbados virar executivos?!

Julie: - Mas, e se eu disse que também pedi para que eles nucnca mais voltassem para cá?

John: - O quê?! (alegre).

Julie: - É sério! Pedi para que eles fossem morar no Rio e até esquecessem que nós existimos.

John: - Então, te chamo de fada!

Se abraçam!Fecha a cortina.

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