7. PROBLEMAS DE UM ADOLESCENTE

Anderson entrou na sala de estar. Seu tio entrou logo atrás e, depois, sua tia, a Márcia:
– Anderson, quer que eu faça um lanche?! Você deve estar com muita fome! – perguntou Márcia.
Embora estivesse com fome, Anderson recusou. Estava muito triste. Seus pais haviam morrido no dia anterior. Os pais dele estavam num ônibus, quando este bateu num caminhão. Anderson, que acabara de chegar do velório deles mas não olhou para o caixão nem para os defuntos, disse para o tio Geraldo, após ele perguntar se queria ir morar na casa dele.
– Não precisa se preocupar comigo não, tio. Eu vou continuar vivendo nessa casa, mesmo sem meus pais. É só fingir que eles foram viajar e vão demorar para voltar.
– Tudo bem – disse Geraldo. – Mas, caso você resolva a ir, nós estaremos às ordens.
A tia dele, Márcia, não era casada mas tinha um filho. Seu ex-marido, após engravidá-la, fugiu. Agora ela arranjara um namorado e estavam noivos. Ela iria perguntar para Anderson o mesmo que seu irmão perguntara, mas nem precisou. Mesmo assim, disse que também estaria às ordens, caso ele resolvesse ir para Peruíbe, onde ela morava.
O tio dele, Geraldo, disse que iria para Campinas, onde morava, pois no dia seguinte teria que trabalhar e de São Paulo, onde Anderson morava, até Campinas demorava um bom tempo. Logo ele estava indo embora. Márcia também saiu logo. De repente, Anderson começou a chorar.
A campainha tocou. Anderson percebeu que dormira um bom tempo. Foi ver quem era. Lá no portão estava André, se melhor amigo, e uma menina. Anderson o convidou para entrar. André disse:
– Desculpa, Anderson, por vir te amolar.
– Tudo bem, André. É até bom ter alguém para conversar.
– Antes de mais nada, eu vim aqui para te dar meu pêsames.
– Os meus também – disse a menina que o acompanhava – é muito chato viver sem os pais, né?!
– É sim – respondeu Anderson.
– Anderson, esta é a Gabriela, minha namorada.
– Prazer em conhecê-lo – disse ela.
– O prazer é meu – respondeu Anderson.
– Anderson, eu vou na minha casa pegar o caderno de Geografia, pois ele passou matéria, e já volto.
Anderson e Gabriela ficaram sozinhos. Anderson disse:
– Ele é legal, não é?!
– Eu acho. Mas não é tão bonito. Aliás, só namoro com ele pois ele vive “enchendo o saco”.
– Mas você é bonita.
– Obrigada. E você também é. E muito mais bonito que o André.
Anderson foi se encostando nela. Começaram a se beijar. Não se preocuparam nem em fechar a porta. Estavam loucos, um pelo outro. De repente, um vulto na sala os interrompeu: André, que disse:
– Desculpa por interromper-vos. Mas já estou de saída, tá?!
Anderson percebeu a burrada que fizera. A Gabriela correu atrás do André. Anderson perdera os pais, agora o melhor amigo. O que fazer agora?!
Eram 9:00h. Anderson dormira a noite passada muito mal. Ficara lembrando o que perdera no mesmo dia. Decidiu o que faria e dormiu. Acordara às 9:00h e foi arrumando suas roupas em malas, suas coisas em sacolas. Preferiu ir para Peruíbe. Telefonou para a tia dizendo que iria de ônibus. Mas a tia disse que o buscaria de carro. Enquanto esperava, ia arrumando as coisas. Não sabia o que fazer com a casa nem com os móveis.
Alguém bate na porta. Era a Josefa, a empregada da casa. Anderson disse que estava se mudando para Peruíbe. Perguntou se ela queria ficar com a casa para ela, já que ela e o marido moravam de aluguel. Sem pensar duas vezes, aceitou. Logo, dona Márcia chegou. Só colocaram as coisas no carro e saíram, deixando Josefa com a casa, os móveis, alguns brinquedos para as crianças e algumas roupas. A nova casa não ficava longe da velha. Eles teriam casa própria e Anderson moraria com a tia como se fosse filho dela. Nada mais na sua vida tinha valor. Por que tinha que ser assim?!
Antes de ir para casa, Márcia parou o carro numa rua próxima ao supermercado Peralta, em Peruíbe. Anderson viu um carro parar e sair dele duas pessoas: uma senhora e uma moça. A moça estava de costas para ele. Essas pessoas tiravam um monte de coisa do carro, como se estivesse se mudando para aquela casa. Márcia chegou no carro, entrou, deu a partida e saiu. Foi quando a moça olhou para trás e Anderson viu quem era. Uma pessoa que jamais ele pensara em encontrar: Gabriela. Ele não podia acreditar naquilo. Sabia muito bem que ela moraria uma rua acima da dele.
Chegara na casa. Guardaram as coisas no quarto que ele dormiria. A tia o convidou para irem à praia. Lá foram eles. Também Fernando os acompanhou. Fernando, ou Nando como Márcia o chamava, era o noivo de Márcia. Não foram em São Paulo pois estava trabalhando. Já que Márcia estava de folga, resolveu buscar o Anderson. Lá ia os três para a praia. Ou melhor, os quatro: junto ia Júnior, filho da Márcia. O dia prometia ser bom! A água do mar estava uma delícia. Estava calor, também, o que fez com que eles não saíssem da água até umas 19:00h. Era horário de verão.
Anderson não estudava, pois estava de férias!!! No ano seguinte estudaria numa escola em Peruíbe. Ele olhou para a praia e lá estava Gabriela. Pensou em ir lá e pedir desculpas a ela, mas achou melhor não fazer isso. 19:00h eles voltavam para casa. Fernando e Márcia trabalhariam no outro dia até 17:00h e Júnior iria para a creche. Anderson ficaria sozinho na nova casa.
Isso realmente aconteceu. Após uma noite muito gostosa, Anderson acordou e não viu ninguém na casa. Eram 8:00h e eles sairiam às 6:00h. Viu a cozinha arrumada para ele com pão, leite, chocolate em pó, patê, etc. Tomou café, arrumou a cozinha, depois o quarto onde havia dormido, escovou os dentes, penteou os cabelos, lavou o rosto, se arrumou e foi assistir TV. Quando eram umas 12:00h, pegou umas coisas na geladeira, esquentou e comeu. Já havia almoçado. Voltou para a sala.
Foi até o supermercado e comprou algumas coisas. Resolveu ir até a praia. Chegou na casa, pegou o shorts de banho e foi para a praia. Eram cerca de 13:00h. Levou um relógio para ver quando fosse 16:30h e voltar para a casa. Chegou na praia. Nadou bastante. Conheceu algumas pessoas. Brincaram. Quando eram cerca de 16:00h, Anderson viu, na praia, uma moça, a mesma do carro, a mesma da confusão de São Paulo: Gabriela. Foi falar com ela. Chegou e falou:
– Oi, Gabriela. Tudo bem?
– Tudo.
– Eu vim aqui para pedir desculpas para você. Quem sabe, voltaríamos a namorar...
– Mas nós não estávamos namorando!
– Então, quem sabe se começássemos um namoro?!
– Não vai dar, Anderson. Você fez com que eu perdesse a pessoa que eu amava...
– Mas você disse que não o amava.
– Eu menti.
– Você pensa que eu também não sofri?!
– Tudo bem, mas a culpa foi sua.
– Claro que sim. Se você o amava, não me falava tudo aquilo.
– Mas menti.
– Quem mandou?!
– E se você fosse amigo dele, não faria aquilo.
Quando ela falou isso, foi o mesmo que cair um prédio no Anderson. Ele saiu andando sem olhar para ela, em direção à sua casa.
Gabriela se arrependeu do que fizera. Gritou para ele, mas ele não ligou. Chegou em casa triste. Logo a tia e o tio chegaram. Foram para o Guaraú, uma praia próxima dali. Pelo menos lá não teria nenhuma Gabriela nem André para “encher o saco”. Ficaram um bom tempo lá.
Quando chegaram um casa, tomaram um banho e logo foram dormir. No dia seguinte, a cena do café se repetia. Só que, ao invés de ir assistir TV, preferiu ir visitar um local de pesca em Mongaguá. Era só pegar um ônibus. Ele já havia ido lá. Não seria difícil visitar a plataforma de pesca, como é chamada. Saiu de casa, foi até o supermercado comprar uma bolacha, e caminhou até o ponto do ônibus. Entrou no ônibus e foi para a plataforma.
Chegando lá, perguntaram se ele iria pescar. Disse que não. Entrou e ficou olhando o mar. De repente, percebeu que uma pessoa se encontara nele: Gabriela:
– Oi, Anderson.
– O que você veio fazer aqui?! Me dar o tapa que você esqueceu?
– Não, eu vim para pedir desculpas e falar que eu te desculpo e te amo.
Sem saber o que falar, começaram a se beijar. Perceberam alguém se aproximar: André.
– Oi! Como vocês são legais, né?! Não que eu tenha alguma coisa com isso, mas jamais pensei que vocês se desculpariam.
– É claro. Nós esquecemos o passado e vivemos o presente.
– Vocês me desculpam? Agora eu já tenho namorada mesmo!
– É claro! – disse Anderson. – E pode se despreocupar pois essa eu não vou querer!
Os três se abraçaram. Estavam unidos. Nada mais os separaria. Só a morte!

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